A manhã estava cinzenta quando a Joana se sentou no banco do jardim, observava o filho Miguel a brincar no escorrega. Mas algo estava diferente naquele dia. O Miguel, com apenas oito anos, parecia carregar o peso de um mundo invisível.
Na noite anterior, a professora ligou a dizer que o Miguel bateu a um menino na escola. Não era a primeira vez!
Joana sentia o chão a fugir-lhe dos pés. Não era só o Miguel. Era o peso de um casamento desgastado, os turnos duplos no trabalho e a culpa constante por sentir que estava a falhar como mãe.
Foi então que conheceu Ana, uma mentora, alguém que já tinha passado pela mesma situação e que hoje era uma mãe orgulhosa e feliz.
Joana nunca tinha ouvido falar que a mentoria podia ajudar, mas, num ato de desespero, decidiu experimentar.
Ana não trouxe críticas, nem soluções mágicas. Apenas um olhar compreensivo e uma promessa:
— “Vamos encontrar uma solução juntas.”
A primeira conversa não foi sobre o Miguel. Foi sobre a Joana. Sobre as discussões em casa que ecoavam na forma como o Miguel lidava com os colegas, sobre o cansaço que a impedia de ouvir os pequenos desabafos do filho e sobre como ela própria estava presa a um ciclo de frustração e silêncio.
Ana explicou-lhe algo simples, mas transformador: uma criança não aprende a gerir emoções num ambiente onde os adultos também não o conseguem fazer.
Para ajudar o Miguel, era preciso olhar para todo o sistema — a família, a escola, as pequenas interações do dia a dia.
— “Não se trata de apontar culpados”, disse Ana. “Trata-se de entender o todo.”
Com o tempo, a Joana começou a perceber pequenas mudanças. A Ana ensinou-lhe ferramentas práticas para validar os sentimentos do Miguel sem ceder a birras, a estabelecer limites com amor e, acima de tudo, a cuidar das suas próprias emoções para conseguir ser um exemplo para o seu filho.
O reflexo dessa transformação chegou à escola. O Miguel começou a reagir menos às provocações e demonstrava mais segurança. A professora percebeu a mudança e, com o tempo, até os outros pais começaram a perguntar o que a Joana tinha feito de diferente.
Ao aprender a lidar com os seus próprios desafios emocionais, a Joana tornou-se uma mãe mais presente e uma profissional mais confiante. O Miguel, por sua vez, começou a fugir das discussões em vez de envolver-se nelas.
*** Cada vez que uma família aprende a resolver conflitos com respeito e empatia, algo maior acontece:
- Na escola: Crianças emocionalmente seguras não precisam de recorrer à agressividade para se sentirem ouvidas.
- Em casa: Pais conscientes criam ambientes onde a violência deixa de ser uma resposta.
- No trabalho e na sociedade: Adultos que cresceram com empatia tornam-se agentes de mudança.
Alguns meses depois, a Joana voltou ao banco do jardim. Desta vez, o Miguel ria abertamente e corria entre as folhas caídas. Ao seu lado, a Ana sorriu.
— “Obrigada”, disse Joana. “Mas sinto que não foi só o Miguel que mudou. Fomos todos.”
Ana apertou-lhe a mão.
— “Esse é o poder do sistema. Quando uma peça muda, todo o puzzle encontra um novo equilíbrio.”
E foi ali que a mãe Joana percebeu que o verdadeiro abraço que faltava não era apenas para o filho Miguel. Era para si mesma, para a sua família e para um mundo que, aos poucos, estava a aprender que empatia e respeito podem sempre ser mais fortes do que qualquer violência.
Fernanda Ferreira
Associação Amar Eva “Construímos pontes de Amor desde a infância”
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