Vivemos tempos estranhos.
Os pais desconfiam dos professores, a escola é vista como adversária e o diálogo transformou-se em julgamento.
Mas esquecemo-nos de algo essencial:
Todos os pais que hoje criticam a escola, passaram por uma.
E foi graças aos professores de ontem que hoje exibem os títulos, os cursos e as carreiras que têm.
A grande questão é que, quando se perde a confiança, não são os adultos que saem feridos, são os filhos.
Há algo a mudar silenciosamente na relação entre escola e família.
Não se ouve nos corredores, mas sente-se nas reuniões, nos e-mails trocados e até nas entrelinhas do olhar dos pais.
A confiança desapareceu.
Hoje, muitos olham para a escola como um inimigo:
um sistema “ultrapassado”, que “não entende o seu filho”, que “já não ensina como antigamente”, ou que “devia fazer melhor”.
Mas esquecem-se de um detalhe óbvio e poderoso:
foram esses mesmos professores, ou outros como eles, que lhes ensinaram o que hoje sabem.
Curioso, não é?
Pais com doutoramentos a duvidar de quem lhes ensinou o alfabeto.
Mestres e licenciados a questionar quem lhes deu as bases do raciocínio.
Homens e mulheres instruídos, mas que, quando se trata dos filhos, parecem esquecer que o conhecimento nasce de uma mesa de escola e de alguém que acreditou neles antes de acreditarem em si próprios.
O problema não é discordar. O problema é não confiar.
Quando os pais entram na escola com o espírito de “fiscalizar” o professor em vez de colaborar com ele, a educação deixa de ser uma ponte e transforma-se num campo de batalha.
E quando a educação vira guerra, os primeiros feridos são sempre os filhos.
Porque as crianças observam mais do que ouvem e aprendem com o exemplo.
Se veem os pais a duvidar da autoridade do professor, aprendem que não é preciso respeitar quem ensina.
Se percebem que o pai ou a mãe desautorizam o adulto na escola, aprendem que podem fazer o mesmo em casa.
E um dia, fazem-no.
Os filhos de hoje são os adultos de amanhã
E aqui está o verdadeiro perigo:
Estas crianças, que crescem sem referências consistentes de respeito, empatia e escuta, tornam-se adolescentes que não reconhecem limites.
E depois, adultos que confundem liberdade com desrespeito.
Hoje já vemos o reflexo disso:
Filhos que agridem verbal e fisicamente os pais.
Jovens que ofendem os professores, os mais velhos, a polícia ou qualquer figura de autoridade.
Pessoas que acham que o “eu” é o centro do mundo e que qualquer “não” é uma afronta.
Mas nada disto acontece de repente.
Nasce lá atrás, no momento em que os pais deixaram de confiar na escola.
Quando, em vez de aliados, se tornaram adversários.
Quando o exemplo deixou de ser o respeito e passou a ser a desconfiança.
A escola não é perfeita e nunca será.
Mas a educação só acontece quando existe confiança.
Confiança entre pais e professores.
Confiança no valor do diálogo.
Confiança no propósito comum de formar seres humanos capazes de respeitar, escutar e compreender o outro.
Porque uma coisa é certa:
quando os pais deixam de confiar, os filhos deixam de respeitar.
E quando o respeito morre, tudo o resto se desmorona. Começa na escola, depois na família e na própria sociedade.
Fernanda Ferreira, Professora, Mãe, Fundadora e Presidente da Associação Amar Eva
Autora do livro “Eva entrega a Costela a Adão” e “O Amor que procuras está dentro de ti”
Vice-presidente da Rede Global de Mentores
Contacto: amareva.associacao@gmail.com
