José tinha 11 anos quando começou a sentir que o mundo à sua volta se tornava cada vez mais pesado. No início do 6.º ano, ainda tinha sonhos, ainda ria com os amigos, ainda acreditava que a escola era um lugar seguro. Mas tudo mudou quando se tornou o alvo.
Primeiro foram os olhares de desdém. Depois, as palavras cruéis. Chamavam-lhe fraco, inútil, diziam que não valia nada. No intervalo, empurravam-no. Às vezes, tiravam-lhe a mochila e despejavam-lhe os cadernos no chão. Outras, fingiam que tropeçavam nele só para o fazer cair.
Os professores notavam o seu silêncio, mas José nunca se queixava.
-“Se eu falar, vai ser pior”, pensava.
Mas o medo começou a crescer dentro dele como um monstro que não conseguia controlar.
As noites deixaram de ser um refúgio. Os pesadelos começaram a persegui-lo. Acordava encharcado em suor, com o coração aos saltos. Algumas noites, sem conseguir controlar, voltava a molhar a cama. Sentia-se um bebé. Sentia-se fraco.
De manhã, o estômago revolvia-se ao pensar em voltar à escola. Às vezes vomitava, outras dizia à mãe que estava doente. Mas ela não acreditava.
— “Isso são desculpas, José. Tens de ser forte!”
Mas ele já não sabia como ser forte.
As notas começaram a piorar. José já não conseguia concentrar-se, as palavras nos livros tornaram-se um emaranhado sem sentido. Os professores começaram a repreendê-lo:
— “Tens de te esforçar mais, José!”
Mas como é que se esforça alguém que já perdeu a vontade de continuar?
O apetite desapareceu. Outras vezes, quando estava sozinho, comia tudo o que encontrava, numa tentativa desesperada de preencher aquele vazio que crescia dentro dele.
O pai dizia-lhe que estava “diferente”. A mãe dizia que ele “tinha de reagir”. Mas ninguém via o buraco negro para onde ele estava a cair.
Num dia particularmente difícil, José chegou a casa cheio de raiva. Os colegas tinham rasgado os seus cadernos à sua frente, rindo-se da sua cara de desespero. A raiva transbordou. Atirou o telemóvel contra a parede. Gritou com a mãe sem motivo.
Nessa noite, pensou em acabar com tudo. Pegou num frasco de comprimidos. Sentou-se no chão do quarto, sem força para continuar.
Esta pode ser o relato de muitos jovens, que ninguém entende. Que ninguém quer saber.
Como fazer diferente?
Como podemos perceber o que está a acontecer, quando ninguém consegue ouvir o grito silencioso?
A Associação Amar Eva não quer salvar apenas José.
Quer ensinar-te a salvar-te a ti mesmo. E, que depois possas ser tu a ajudar outros a fazerem o mesmo.
Porque ninguém merece sofrer sozinho.
Há sempre uma saída.
Basta alguém estender a mão.
Fernanda Ferreira
Associação Amar Eva “Construímos pontes de Amor desde a infância”
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