Depois de dois dias de intenso debate e troca de ideias em torno do futuro do livro e da literacia, a organização do Book 2.0 faz um balanço muito positivo do evento, que registou um número de participantes superior à primeira edição. Entre os 600 participantes acolhidos durante dois dias no Museu do Oriente, na sua maioria mulheres (62%), registou-se um crescimento do número de participantes estrangeiros (32%), mostrando a relevância da iniciativa da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).
“A APEL e seus associados quiseram assumir a responsabilidade de promover a discussão em torno dos desafios e oportunidades que os livros e a literacia enfrentam em Portugal, chamando para a conversa autores, editores, associações e pensadores nacionais e internacionais. Temos um longo trabalho pela frente, mas saber que cada vez mais pessoas estão a abrir portas a novos mundos e ideias, em especial os mais novos, dá-nos esperança no futuro. Sem dúvida, a leitura, literacia e digitalização são a chave para influenciar a próxima geração a resistir à manipulação e a ter um pensamento crítico robusto.”, afirma Pedro Sobral, Presidente da APEL. “Pelo segundo ano consecutivo, o Book 2.0 deu palco a um debate profícuo e necessário, alimentado por dois estudos: um deles relacionado com os hábitos de compra e leitura dos portugueses, e outro levado a cabo junto de produtores de papel, gráficas, editores, distribuidores e livreiros, traduzido depois num Livro Branco para a Pegada de Carbono. Temos também o dever ético de construir um futuro sustentável para a nossa indústria, o que garantirá que os livros irão nutrir a próxima geração de leitores e proteger o nosso ambiente.”
Um dos momentos mais relevantes do primeiro dia do Book 2.0 prendeu-se com a apresentação dos resultados do estudo “Mercado do Livro: Hábitos de Compra e Leitura em Portugal”, desenvolvido pela Nielsen/GFK para a APEL, que revelou que o mercado editorial português registou um crescimento significativo de cerca de 7% em 2023 com um volume total de 187 milhões de euros, face aos 175 milhões de euros de 2022. Segundo o estudo, a percentagem de portugueses que compraram livros aumentou para 65% em 2023 (62% em 2022), mas o grande destaque vai para a mudança no perfil dos compradores, tendo em conta que a faixa etária dos 25 aos 34 anos passou a ser a que mais compra (76%) e que a faixa etária dos 15 aos 24, foi a que respondeu ter comprado mais livros do que em 2022, com 41% do total dos inquiridos. Já a classe média (C) retomou a liderança na compra de livros (73%).
No segundo dia do Book 2.0, foi apresentado o “Livro Branco para a Pegada de Carbono” do setor dos livros, que veio oferecer recomendações práticas com o objetivo de promover um trabalho em conjunto para enfrentar os impactos climáticos, nomeadamente através da identificação das áreas onde podem ser tomadas medidas coletivas para acelerar o processo de redução das emissões ao longo de toda a cadeia de abastecimento. Este ‘Carbon Footprint Whitepaper’ resultou de um estudo conduzido por Rachel Martin, Diretora de Sustentabilidade Global na Elsevier, que contou com a participação no estudo de produtores de papel, gráficas, editores, distribuidores e livreiros portugueses. O documento apresentado recomenda o estabelecimento de uma visão para 2050, para acelerar a agregação e partilha de dados de carbono, bem como promover a consciencialização para a conformidade através de regulamentações emergentes. Constata-se que a colaboração ao longo da cadeia de abastecimento é essencial para reduzir as emissões de carbono, mas o estudo destaca também a necessidade de inovação, especialmente na produção de papel e na otimização do uso de recursos na impressão.
O Book 2.0 #The Future of Reading trouxe-nos pelo segundo ano consecutivo dois dias de muitas conversas e temas inspiradores. Nos dias 5 e 6 de setembro de 2024, no emblemático Museu do Oriente, em Lisboa, tivemos a oportunidade de questionarmos temas que a todos nos envolvem, de repensarmos novas e mais fortes políticas para o país, num caminho de persistência e resiliência para preservar o nosso legado e sabedoria. O evento contou com a presença de 65 oradores em palco – desde autores, pensadores, líderes empresariais, decisores políticos e jornalistas – de onde surgiram reflexões poderosas que ecoam para além do Book 2.0 e de Portugal, abrindo novos horizontes para o que está por vir. Temas que foram muito além do futuro da leitura, como a sustentabilidade do nosso planeta, a liberdade de expressão e de escrita, novas formas de olhar para a educação, a preocupação latente da saúde mental, em especial nos mais jovens, a importância da literacia financeira num país que tem cerca de dois milhões de portugueses em situação de pobreza, entre outros.
Destacou-se também um dos temas de interesse nacional sobre o papel atual das bibliotecas nacionais, hoje vistos não só como espaços de leitura e aprendizagem, mas também como espaços culturais com uma programação alargada, de ligação às comunidades locais, espaços de trabalho mas também de silêncio e de conexão, numa sessão promovida em parceria com a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e a Rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa (BLX).
Outro dos temas em destaque desta segunda edição do Book 2.0 foi sobre o impacto profundo das temperaturas em ascensão no nosso planeta, numa talk pelo autor e jornalista Jeff Goodell, autor do best-seller ‘O Calor É Que Te Vai Matar’, presença assídua nos maiores canais de televisão norte-americanas para comentar questões relacionadas com a energia e o ambiente, onde refere que o nosso mundo foi construído para um clima que já não existe, que se aplica tanto às nossas cidades e às infra-estruturas urbanas, mas também à realidade cultural e religiosa. “Muita da literatura e das conversas sobre as alterações climáticas são colocadas no futuro, mesmo por pessoas que sabem do assunto e compreendem-no bem. Tende-se a pensar que as alterações climáticas e os seus riscos são algo que vai acontecer a pessoas em lugares distantes ou às gerações futuras. Não se apercebem de que o risco está a acontecer agora.”, alerta Jeff Goodell.
Também a felicidade foi um dos temas apresentados no capítulo da educação, onde se refletiu sobre a importância de extrair o potencial humano de cada pessoa, em especial dos mais jovens, repensando os modelos atuais de educação e aprendizagem. Uma preocupação cada vez mais urgente, num país em que os índices de saúde mental e depressão são dos mais elevados na Europa, sendo Portugal o segundo país da OCDE com maior utilização de antidepressivos e no caso dos ansiolíticos, é mesmo o primeiro. O Book 2.0 trouxe-nos uma reflexão profunda sobre o que é ser feliz, e como podemos descontruir este conceito, numa época em que se desvalorizam as recomendações e conselhos básicos por não haver tempo, encontrando soluções mais imediatas e fáceis.
Como podem as plataformas digitais apoiar na educação? No aumento da literacia de um país? ‘O que o Ensino não te Ensina’ foi outro dos temas trazidos nesta segunda edição do Book 2.0, em que se falou de literacia financeira, onde Portugal, apesar da melhoria recente ao nível de conhecimentos financeiros, ocupa os últimos lugares no contexto europeu (baseado num Eurobarómetro sobre literacia financeira feito para a Comissão Europeia de 2023). Hoje, as plataformas digitais representam um papel importante em matéria de conhecimento. Programas educacionais de suporte aos sistemas de ensino, que facilitam a aprendizagem junto dos mais jovens, como foi o exemplo apresentado da Jovens for Schools – a maior empresa de educação financeira do Brasil que desenha programas sobre educação financeira, empreendedorismo e educação socioemocional de forma lúdica, prática e intuitiva.
Todas as sessões ficarão brevemente disponíveis no canal de Youtube e Spotify, podendo desde já aceder aos dois podcasts que foram gravados em direto na segunda edição do Book 2.0 2024 – “Programa cujo nome estamos legalmente impedidos de dizer”, da Sic Notícias que contou com a presença de João Miguel Tavares, Pedro Mexia, Ricardo Araújo Pereira e Carlos Vaz Marques em palco e “Porque sim não é resposta”, da rádio Observador com a presença de Eduardo Sá e Judite França.
A edição de 2024 do Book 2.0 contou com o Alto Patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, e do apoio da Câmara Municipal de Lisboa, Rede de Bibliotecas de Lisboa – BLX, Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), Plano Nacional de Leitura, Fundação Oriente, International Publishers Association, European and International Booksellers Federation, World Literacy Foundation, Federation of European Publishers, Clube das Mulheres Escritoras, C. Santos VP e Altis Belém, tendo como parceiro estratégico e produção a Vanilla Project.
O Book 2.0 #The Future of Reading é sem dúvida o maior evento de discussão do futuro dos livros, da literacia e da educação em Portugal e na Europa, que tem já terceira edição prevista para 2025.