Estas são as principais conclusões sobre Portugal:
OS HOMENS ASSINAM MAIS – Portugal é o país onde homens e mulheres assinam as notícias quase igualmente. O desporto, a tecnologia e a economia são as secções com menos editoras femininas, com cerca de 25%. Embora os homens assinem mais artigos do que as mulheres, no México, Portugal e Equador assinam mais do que a média.
SUBORDINAÇÃO SEMÂNTICA: O MEU APELIDO FEMININO – Numa em cada 15 mensagens sobre mulheres, “feminino” ou “mulher” é explicitamente mencionado, mais do dobro das vezes do que “masculino” ou “homem” nas notícias sobre homens. Nos 12 países estudados, as mulheres são mencionadas mais explicitamente do que os homens, ou seja, através destes substantivos ou adjectivos. Nos EUA, Brasil e Portugal, os homens são mais mencionados, especialmente nos EUA, onde o sexo masculino é mencionado 30% mais do que o feminino.
ESPOSA E MÃE – A “Esposa” é sempre mais mencionada do que “esposo” ou “marido”, a quem é atribuída a propriedade ou posse. A associação com mulheres é particularmente pronunciada em Portugal, onde 1 em cada 3 notícias sobre mulheres que mencionam a família inclui filhos, e 1 em cada 5 menciona o marido. Nesse país, a família está associada duas vezes mais com as mulheres do que com os homens, mais do dobro do que no país seguinte, o Brasil, e muito perto do terceiro, a Espanha.
A presença e o tratamento das mulheres nos meios de comunicação continua a ser um desafio por resolver, embora se tenham registado avanços nos últimos anos. Existem 2,5 mais notícias sobre homens do que sobre mulheres e estas aparecem citadas 21% menos nas manchetes. Não só continuam a estar sub-representadas como estão mais anónimas. Além disso, quando aparecem, é mais frequente que ocorra uma menção explícita do seu género ou da sua família. Além disso, assinam 50% menos artigos. A economia, a política, a tecnologia e o desporto são os setores onde o fosso é mais evidente. Estas são algumas das conclusões do relatório “Mulheres sem nome” elaborado pela LLYC no contexto do 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Para a elaboração deste estudo, a equipa de Deep Digital Business da LLYC analisou 14 milhões de notícias publicadas durante o último ano com menção explícita do género nos 12 países onde a consultora marca presença (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, México, Panamá, Peru, Portugal e República Dominicana). Na investigação, foram utilizados modelos baseados em Transformers e LLM (Large Language Models), bem como técnicas de NLP (Natural Language Processing).
Se quisermos exemplificar as conclusões do estudo, deparamo-nos com uma notícia que, em geral, não menciona a protagonista na manchete e, no máximo, refere-se a ela como uma categoria secundária com o apelido feminino. Leríamos: “Uma mulher pode ser a nova presidente dos Estados Unidos”, em vez de “Nome real + apelido real, forte candidata à presidência dos Estados Unidos”. Parece economia da linguagem, mas a verdade é que transmite parcialidade, não é informativa e torna invisível.
“A imagem da mulher nos meios de comunicação está a melhorar, mas há ainda um longo caminho a percorrer. O tipo de referências femininas que estamos a projetar nas novas gerações e nos futuros decisores continua distorcido: Continuamos a falar pouco delas e, frequentemente, de uma forma enviesada. Estou convencida de que a visibilidade do talento feminino e da mulher em geral é um acelerador da igualdade”, assegura Luisa García, Chief Operating Officer (COO) da LLYC e coordenadora do relatório.
Estas são as nove manchetes extraídas do relatório:
1.- A mulher está sub-representada: Embora tenha sido identificado um maior e melhor tratamento informativo graças ao surgimento das correspondentes de género, no último ano foram publicadas 2,5 mais notícias sobre homens do que sobre mulheres nos media.
2.- São mulheres sem nome: o nome das mulheres aparece 21% menos nas manchetes do que o dos homens. E é 40% inferior em matérias tão relevantes como o desporto, a ciência, a liderança ou o cinema. O leitor senta-se diante de notícias de mulheres sem nome.
3.- O meu apelido é feminino: a menção explícita do género é 2,3 vezes mais frequente nas mulheres do que nos homens. Quanto maior a menção do “apelido feminino”, menor a tendência para citar o nome das protagonistas. Esta subordinação semântica relega-as para um papel secundário e anedótico.
4.- Os homens assinam mais: na maioria dos países, os homens assinam 50% mais notícias do que as mulheres. As secções sobre saúde, atualidades, sociedade e cultura são as que contam com maior presença feminina (cerca de 45%), enquanto os homens tendem a escrever sobre economia, política, tecnologia e desporto.
5.- As mulheres e as suas famílias, ainda inseparáveis nas notícias: nos media, menciona-se 36% mais a família em notícias sobre mulheres, e de uma forma que as objetifica. Ocorrem 366% mais de menções à família nas notícias sobre empresas associadas à mulher do que ao homem (4 vezes mais), e 191% mais no caso da ciência (2 vezes mais).
6.- A imagem ainda pesa: a moda associa-se mais às notícias que referem a mulher do que às que referem o homem. A forma como se vestem reflete-se em 1 em cada 25 notícias, 20% mais do que quando as notícias falam deles.
7.- Dupla vitimização na cobertura da violência machista: o foco continua a ser na vítima e não no agressor. As mulheres são mencionadas quase três vezes mais do que os homens quando se fala de violência e duas vezes mais em situações de assédio. Quando eles são mencionados, é 20% mais provável que na manchete apareça o termo “mulher” em vez de “homem”. E se as vítimas são expostas pelo seu nome, o do agressor é muitas vezes ocultado por um pseudónimo.
8.- Desporto, campo de jogo masculino: do elevadíssimo volume de notícias publicadas sobre desporto, apenas 5% mencionam explicitamente as mulheres. As notícias sobre mulheres representam apenas 1 em cada 20. Na realidade, o futebol é visto como masculino em 95% dos casos.
9.- Ser boa não é suficiente; deve ser excecional: com muita frequência, a referência feminina refletida nos media é muitas vezes um retrato de sucesso e de excecionalidade. As notícias sobre mulheres políticas, por exemplo, destacam 50% mais os seus êxitos e minimizam os seus erros em comparação com os líderes masculinos. Tal acentua a síndrome da impostora e o burnout nas mulheres que pretendem ter maior exposição e visibilidade.