Há um fio muito fino, quase invisível, que separa o amor da prisão!
E, tantas vezes, na ânsia de proteger quem mais amamos, tropeçamos nessa linha sem perceber.
Amamos os nossos filhos com uma força quase bruta, visceral.
Desde o primeiro instante em que sentimos o nosso bebé nos braços, cresce em nós um instinto profundo de lhes querer evitar todas as dores, todos os erros, todas as quedas que a vida inevitavelmente trará.
Sonhamos com um caminho limpo de espinhos, onde possam caminhar em segurança.
Mas, por vezes, confundimos amor com controlo. Confundimos cuidado com sobre-proteção.
E sem darmos por isso, começamos a construir uma redoma em redor deles. Um espaço fechado onde nada de mau os atinge — mas onde também nada de verdadeiramente formador acontece.
Ao colocarmos almofadas em cada esquina da vida dos nossos filhos, retiramos-lhes a oportunidade de conhecerem a própria força.
- Sem se magoarem, não aprendem a curar.
- Sem se perderem um pouco, não aprendem a orientar-se.
- Sem se responsabilizarem, não se tornam autónomos.
E o mais irónico?
Fazemo-lo por amor.
Mas esse amor, quando não vem acompanhado de confiança, transforma-se numa prisão.
Os limites são fundamentais — claro que sim. As crianças precisam de fronteiras seguras que lhes mostrem até onde podem ir, e que, com o tempo, as convidem a expandir esse território.
Mas os limites não são muros intransponíveis. São linhas orientadoras, que se movem à medida que os nossos filhos crescem.
Educar é caminhar ao lado, não à frente nem atrás.
É estender a mão quando pedem ajuda, mas não impedir que tentem primeiro por si.
É ensinar que falhar faz parte do processo e que, mais importante do que evitar erros, é saber aprender com eles.
O nosso papel não é criar adultos dependentes de nós, presos a uma eterna infância emocional.
O nosso papel é preparar seres humanos inteiros, capazes de escolher os próprios caminhos, de assumir as próprias responsabilidades, e de viver as alegrias e as dores da vida com coragem e autonomia.
Amar verdadeiramente um filho é libertá-lo.
É confiar que as raízes que lhe demos são suficientemente fortes para sustentar as suas próprias asas.
Que saibamos, como pais e mães, abraçar essa missão, na certeza de que o amor que lhes damos será sempre casa, mas nunca prisão.
Fernanda Ferreira, Professora, Mãe, Fundadora da Associação Amar Eva
Autora do livro “Eva entrega a Costela a Adão”
Vice-presidente Operativa Regional da Europa, na Rede Global de Mentores
Contacto: amareva.associacao@gmail.com