O Presidente da Repsol, Antonio Brufau, defendeu na Assembleia Geral de Acionistas da empresa, a necessidade de fazer mudanças e repensar as políticas europeias, com o objetivo de alcançar uma Europa competitiva e em pé de igualdade com os Estados Unidos e a China.
Antonio Brufau apelou para que a Europa reaja à perda do seu peso industrial. Em 2023, o PIB industrial da União Europeia situa-se em 17,5%, longe do objetivo de 20% fixado para 2020, enquanto nos Estados Unidos e na China está a crescer. “A indústria é um motor fundamental da prosperidade económica e do bem-estar social da Europa. Este setor estratégico lidera o desenvolvimento tecnológico e a inovação, mas também se destaca pela sua capacidade de criar empregos de qualidade, pelo seu efeito de atração sobre outras áreas da economia e pelo impacto positivo na balança comercial”, acrescentou.
Na sua intervenção, o Presidente da Repsol explicou que a perda de peso industrial se deve a um excesso de regulamentação complexa e a uma ênfase excessiva na sustentabilidade, sem ter em conta outros aspetos essenciais, como a garantia de abastecimento. Por outro lado, a China e os Estados Unidos promovem, protegem e incentivam as suas indústrias.
O Presidente da Repsol considerou que a União Europeia deve continuar a liderar o processo de transição energética, mas colocando as políticas industriais na primeira linha das suas prioridades estratégicas: “O equilíbrio entre a segurança do aprovisionamento energético, a competitividade e a sustentabilidade, o trilema energético, é fundamental para o desenvolvimento e a prosperidade da nossa região”. Como exemplo, apontou os preços da energia: em 2023, o preço da eletricidade para a indústria na Europa era 2,6 vezes mais caro do que nos Estados Unidos, e o preço do gás natural era 5,8 vezes mais elevado.
Antonio Brufau reconheceu que já há sinais de mudança no Continente e que o novo mandato da União Europeia vai reativar as políticas para recuperar a competitividade da economia europeia em relação a outras regiões e reduzir o declínio industrial. Caso contrário, o tecido industrial continuará a perder-se e as emissões continuarão a ser exportadas para outras regiões.
“Nos próximos anos, veremos se a Europa continua a ser um mero recreio para a concorrência de outros atores ou se relançamos a nossa presença, revitalizando a nossa indústria e criando um verdadeiro mercado único. A transição para uma economia de baixo carbono não será fácil nem barata, mas é essencial”, afirmou. O Presidente da Repsol acrescentou que, para o conseguir, “é necessário um compromisso político a longo prazo para reindustrializar a Europa e poder competir em condições de igualdade com outras regiões, mas sempre no âmbito de uma transição energética que obtenha resultados efetivos na luta contra as alterações climáticas”.
Aposta na transição energética
Por sua vez, o CEO da Repsol, Josu Jon Imaz, no seu discurso aos acionistas, analisou o desempenho operacional e financeiro da empresa em 2023 e entrou na Atualização Estratégica 2024-2027, apresentada em fevereiro passado, depois de ter alcançado, dois anos antes do previsto, a maioria dos objetivos comprometidos no Plano Estratégico 2021-2025.
Josu Jon Imaz recordou que a atual estratégia estabelece um novo quadro de alocação de capital com três prioridades principais: melhorar a remuneração dos acionistas, manter a atual notação de crédito e um balanço sólido, e implementar um plano de investimento líquido entre 16.000 e 19.000 milhões de euros até 2027, dos quais mais de 35% serão afetados a iniciativas de baixo carbono.
O CEO da Repsol sublinhou que a política de remunerações da empresa – com o compromisso de destinar entre 25% e 35% do cash flow das operações – continua a ser uma das mais atrativas da bolsa espanhola e do setor. A Repsol distribuirá 4.600 milhões em dinheiro no período 2024-2027, uma remuneração que será completada com a recompra de ações até 5.400 milhões de euros.
Josu Jon Imaz passou em revista a estratégia que marcará o futuro dos negócios da empresa, destacando a importância da área Industrial, onde estão a ser lançadas as bases para transformar os seus complexos industriais em hubs multienergéticos, desenvolvendo plataformas de combustíveis renováveis e outras energias de baixo carbono. Na refinaria de Cartagena, a empresa começou a produzir combustíveis 100% renováveis em grande escala, com um investimento de 250 milhões de euros e uma capacidade de produção de 250.000 toneladas por ano.Neste sentido, Josu Jon Imaz afirmou que o imposto sobre as empresas energéticas, que “foi concebido como temporário e extraordinário”, penaliza o esforço necessário para transformar os complexos industriais em pólos multienergéticos e progressivamente mais descarbonizados. Além disso, “penaliza as empresas que, como a Repsol, investem em ativos industriais, geram emprego e garantem a independência energética do país”. No entanto, sublinhou o compromisso da empresa com o desenvolvimento industrial, o emprego de qualidade e as tecnologias de ponta.
O CEO da Repsol enumerou as prioridades de todas as áreas de negócio da empresa. Na área de Exploração e Produção, o foco está na melhoria do portefólio para conseguir um negócio mais descarbonizado e com maior potencial de criação de valor. O negócio de Clientes continuará a crescer em utilizadores de eletricidade e gás e atingirá os 11 milhões de clientes digitais. E no negócio de Geração de Baixo Carbono, serão atingidos entre 9.000 MW e 10.000 MW de capacidade instalada até 2027. “Temos uma oferta multienergética digital e sustentável para os nossos clientes. Temos uma proposta de valor única, algo que não é facilmente igualado por outros concorrentes”, afirmou o responsável.
“Continuaremos a oferecer todas as formas de energia de que a sociedade necessita, sendo o único limite a tecnologia e não a ideologia. Continuaremos a fazê-lo de forma competitiva e cada vez mais sustentável e descarbonizada. A nossa Atualização Estratégica 2024-2027 fará com que o tecido industrial da Península Ibérica evolua para um tecido mais sustentável e circular”, concluiu o CEO da Repsol.
Deliberações da Assembleia Geral de Acionistas
Os acionistas, que aprovaram a gestão da empresa em 2023, aprovaram igualmente a proposta de um dividendo final de 0,5 euros brutos por ação – imputado aos lucros do exercício de 2023 – a pagar em 8 de julho e que será adicionado à remuneração paga em janeiro deste ano. O dividendo em dinheiro será assim aumentado em 29%, para 0,90 euros brutos por ação, em comparação com o ano anterior.
Os acionistas aprovaram igualmente a distribuição de um montante adicional de 0,45 euros brutos por ação a partir das reservas livres, que deverá ser distribuído em janeiro de 2025, em data a determinar pelo Conselho de Administração. A Assembleia Geral de Acionistas deu igualmente luz verde a uma redução do capital social através do resgate de 40 milhões de ações próprias e à delegação no Conselho de Administração do poder de proceder a reduções adicionais de capital até um máximo de 121.739.605 ações próprias, equivalentes a 10% do capital social, a fim de dispor de maior flexibilidade no resgate de ações.
A estratégia de transição energética da empresa, submetida à Assembleia Geral a título consultivo e centrada na obtenção de emissões líquidas nulas até 2050, foi igualmente aprovada pelos acionistas.