O Bullying silencioso que marca as Mulheres
Desde pequenas, somos ensinadas a prender o cabelo.
Não apenas por estética ou por costume, mas porque, de certa forma, há algo simbólico nesse ato. Trançamos os fios como trançamos as emoções, apertamos os ganchos como seguramos os medos, mantemos tudo bem preso para não incomodar, para não chamar atenção, para não sermos “demasiado”.
As avós, dizia-nos para sermos recatadas. As mães, ensinam a falar baixo, a cruzar as pernas, a não responder torto. E a escola, a família, a sociedade, todas em uníssono, repetiam que devíamos ser boas meninas.
Mas ninguém nos disse o peso que isso teria.
Ser mulher tem sido, geração após geração, um exercício de contenção.
- Contemos a raiva para não parecermos histéricas.
- Contemos as lágrimas para não parecermos frágeis.
- Contemos as vontades para não parecermos inconvenientes.
Crescemos a ouvir que temos de ser fortes, mas não muito, inteligentes, mas sem mostrar demasiado, bonitas, mas sem dar nas vistas.
E se olharmos bem para isto, não será um tipo de Bullying silencioso?
Um que não vem de um colega de escola, mas da própria estrutura social que nos molda?
Aprendemos cedo demais a chamar as coisas pelos nomes errados.
- Quando nos dizem para aguentar, chamam-lhe resiliência.
- Quando nos dizem para baixar a cabeça, chamam-lhe respeito.
- Quando nos fazem sentir menos, chamam-lhe tradição.
Mas não é tradição o que nos faz sentir pequenas. Não é respeito o que nos manda calar. E, acima de tudo, não é resiliência o que nos ensina a aceitar o inaceitável.
Mas talvez seja tempo de finalmente soltar o cabelo.
Talvez seja tempo de ensinar as meninas a correrem com o cabelo ao vento, sem medo de serem vistas ou ouvidas.
A mudança começa quando percebemos que aquilo que carregamos não é apenas nosso – é de todas as mulheres que vieram antes de nós e de todas as que virão depois.
Se refletirmos nisso agora, talvez as nossas filhas nunca precisem de aprender a prender os seus próprios sentimentos com um elástico invisível.
E então, quem sabe, um dia poderemos todas andar de cabelo solto, sem medo do vento.
Fernanda Ferreira, Professora, Mãe, Fundadora da Associação Amar Eva “Construímos pontes de Amor desde a infância”
Autora do livro “Eva entrega a Costela a Adão”
Vice-presidente Operativa Regional da Europa, na Rede Global de Mentores
Contacto: amareva.associacao@gmail.com