Quem é a Aira de Mello?
Nasci nos anos 70, em Moçambique, vim muito pequena, não me lembro de grande coisa, mas já lá voltei… e adorei: o cheiro, as cores, os sons, a força inigualável de África.
Sou uma falsa extrovertida que na verdade prefere um serão tranquilo em família ao bulício do social. Alguém que detesta fazer as mesmas coisas outra e outra vez e por isso procura novas ideias, que fecha assuntos, foge ao conflito e procura o consenso. Positiva mas preocupada. Aventureira mas prudente. Definitivamente criativa e avessa a tendências, modas e maneirismos sociais. Sempre adorei carros, motos, aviões… máquinas que nos dão independência e liberdade de movimentos e sempre amei animais (todos) – acredito que, como nós, têm a sua personalidade, os seus sonhos, medos, desejos, frustrações e alegrias e que não temos o direito de os desrespeitar ou a sobranceria de nos considerarmos superiores.
Como caracteriza o seu percurso profissional?
Foi sempre ligado à comunicação, o meu pai tinha uma agencia de publicidade, cresci entre storyboards feitos a tinta da china, foi uma grande influência. No inicio fui saltitando, evoluindo, cada mudança foi importante para a minha progressão profissional e crescimento enquanto pessoa. Comecei na Shell, passei depois por duas agencias de comunicação, a Ogilvy e a Wunderman, de seguida os automóveis, primeiro a Fiat, depois a BMW… para finalmente parar, na Volvo, onde estou desde 2008. É uma marca com que me identifico totalmente e que é um privilégio trabalhar. Os seus valores únicos ensinam-nos que é possível haver ética nos negócios e pensar nas pessoas, na vida, antes de tudo o resto. A Volvo é muito mais que uma marca de automóveis, é uma filosofia de vida e é para a vida.
O que mais valorizou e retirou de cada uma das etapas da sua carreira?
Tudo o que me ensinaram as pessoas com quem trabalhei, direta ou indiretamente, os bons e os maus exemplos. Aprendemos sempre. Os erros, a capacidade de os subvalorizar. Foi sobretudo importante um conselho do meu pai, logo no inicio – não estagnar, não cristalizar… Se os anos passam e nada muda, procurar novos desafios e realidades. Talvez por isso, não consigo ficar “a ver a banda passar”.
O que sente que a diferencia?
Se calhar não sou a melhor pessoa para responder a isso (!)
Tento ser genuína, próxima, humilde, para mim não há chefias, há pessoas que trabalham juntas, com diversão e alegria, por um objetivo comum. Tento contagiar os demais para que se entreguem com gosto e empenho a cada projeto.
Que desafios tem a nível profissional no seu dia a dia?
São enormes e visíveis. A industria automóvel está a mudar muito rapidamente. Talvez tenha sido das que menos evoluiu nos últimos 80 anos mas, recentemente, tudo mudou… Condução autónoma, a eletricidade e o fim do motor a combustão, novas soluções de mobilidade que não passam necessariamente pela propriedade automóvel, a venda online e a chegada à Europa de inúmeras novas marcas chinesas … é uma revolução! Temos que nos adaptar constantemente, reinventarmo-nos e não ter-mos a veleidade de conseguir parar o futuro com as mãos, não sermos “velhos do Restelo”. O mundo está a mudar e mais que mudar com ele, precisamos antecipar a mudança para melhor a podermos aproveitar.

Como caracteriza um profissional de sucesso?
Alguém que, acima de tudo, consegue inspirar e motivar todos à sua volta transformando cada dia de trabalho em dedicação, energia positiva e entrega apaixonada.
Que mensagem pretende passar à sua equipa?
Que sabem que contam sempre comigo, dentro e fora do escritório para o que de mim precisarem. O meu propósito é ajudá-los a pensar, a fazer, a crescer… a brilhar. Temos uma dinâmica fantástica, de amizade, respeito e diversão. Tenho imensa sorte por tê-los comigo nesta viagem.
Como caracteriza o mercado português, comparativamente com outros mercados da área?
Agrada-nos, sobretudo, que as pessoas estejam a abraçar a eletrificação. Num estudo recente mais de 80% dos portugueses questionados afirmaram que o seu próximo automóvel será eletrificado, seja por razões fiscais ou ambientais, é algo positivo. Na Volvo, 70% dos automóveis que vendemos aqui são já eletrificados o que é uma percentagem muito positiva face à media da Marca na Europa (49%) e no Mundo (31%).
Onde estamos ainda um pouco atras da tendência é na relação de propriedade que estabelecemos com o automóvel, enquanto noutros mercados as pessoas preferem, há muito, não ter o ónus da compra, aqui ainda valorizamos muito o conceito da “minha casa” e do “meu carro”. Mas já se perfila no horizonte uma nova geração que prefere menos amarras e compromissos, mais uma vez a mudança virá, com o tempo e com novas propostas alternativas de mobilidade que em breve serão realidade.
As mulheres ocupam cada vez mais posições de relevo. Isso deve-se a quê?
A uma mudança de mentalidades que só peca por tardia. A competência, o profissionalismo e a inteligência não têm género. Felizmente sempre senti respeito numa industria dominada por homens onde não poucas vezes era a única mulher na sala e/ou ao volante. Acredito na igualdade de oportunidades e na meritocracia, independentemente de tudo o resto. Mas há ainda um longo caminho a percorrer, sobretudo noutras latitudes em que o papel da mulher é, ainda, de subserviência.
Quais são as suas fontes de auto motivação e inspiração?
A natureza, o som do mar, o cheiro a terra, o sol na pele são fundamentais para carregar baterias. Seria menos feliz no caos da selva de betão das grandes cidades. Valorizo muito a harmonia familiar, a paz de chegar a casa. Tenho o privilegio de partilhar a minha vida com um marido fantástico e dois cães, um gato e um papagaio amorosos a quem chamamos filhos. Somos uma família feliz, totalmente inconvencional.
Como faz para se manter atualizada?
Pesquiso, leio, subscrevo, converso. Não há outra maneira. Mas sinto-me sempre desatualizada, tudo evolui tão depressa, há tantas fontes de informação, pecamos por excesso, acaba por ser mais trabalhoso filtrar o que é, de facto, relevante.
Sobretudo incomoda-me quando tento recuperar algum tema e já não me recordo onde vi!

Qual a sua meta pessoal?
Deixar uma pegada de felicidade e alegria no caminho, melhorar alguma coisa, ter ideias válidas e transformadoras, sentir que ter estado neste mundo não foi totalmente em vão.
Projetos futuros?
Parar antes do tempo oficialmente marcado e dedicar-me, enquanto tenho energia, saúde e disponibilidade, a causas. Dar esses últimos 10/15 anos de trabalho a quem precisa de apoio, de conforto, de ajuda, sobretudo animais.
De que valor humano não abdica?
Lealdade.
Algo que a marcou?
O 11 de setembro. Foi um dia desolador. Todos nos lembramos onde estávamos nesse dia, quando ouvimos as noticias. Para uma geração que teve a sorte de nunca viver uma guerra acho que esses momentos foram um vislumbre, aquela sensação de estar a viver a história, a tragédia humana, a sensação de insegurança de não sabermos o que aconteceria a seguir. Sentimo-nos muito pequeninos perante algo tão perturbadoramente grandioso.
Um desejo. Uma ambição?
Que nos deixemos de filtros e narrativas cozinhadas e sejamos mais genuínos. Vivemos num mundo de show off, as redes sociais vieram por a nu essa realidade. Há uma necessidade de impressionar, de partilhar a tal selfie onde somos todos lindos, ricos e felizes. Seria bom apostarmos na autenticidade, na simplicidade, na verdade. Os animais dão-nos lições fabulosas a esse nível, não querem saber o que compras, o que vestes, onde passas férias ou se és bonito – querem saber qual a tua energia, atitude e o que lhes dás, de ti.
Um livro… O Diário de Anne Frank
“Quero amigos, não admiradores. Pessoas que me respeitam pelo meu caráter, pelo que faço, não pelo meu sorriso encantador. O círculo em meu redor seria bem mais pequeno mas seria composto por gente sincera”
Uma música… Innuendo (Queen)
“You can be anything you want to be. Just turn yourself into anything you think that you could ever be. Be free with your tempo, be free, be free. Surrender your ego, be free, be free… to yourself”
Tem alguma mensagem que queira partilhar?
Uma frase de Lincoln que diz muito… a tradução/adaptação é minha pelo que pode aparecer diferente, por aí:
“No fim de contas não são os anos que vives que contam, conta o que vives, nesses anos”.