Vivemos tempos em que a violência cada vez mais se disfarça, engenhosamente, de preocupação.
Pais que se dizem atentos, mas vivem aprisionados pelo medo de falhar.
Professores que se esforçam por fazer o seu melhor, mas carregam fardos emocionais que os impedem de ver o que realmente está diante de si.
Jovens que gritam em silêncio e, que o seu grito, tantas vezes, só se ouve quando já é tarde demais.
O aumento do suicídio entre jovens é um reflexo doloroso de uma sociedade que perdeu a escuta. Uma sociedade que se defende, que desconfia, que aponta o dedo antes de olhar para dentro.
Quantos pais reagem à dor dos filhos sem realmente a escutar?
Quantos adultos, sobrecarregados, esquecem que o amor e a presença não se podem medir pelos minutos roubados ao trabalho, mas na qualidade da atenção que damos quando estamos juntos?
A violência que chega à escola raramente começa lá. Ela nasce em casa, na ausência disfarçada de presença, no silêncio das emoções reprimidas, nas palavras que não se dizem porque “não há tempo” ou “não vale a pena”.
Nasce também nos adultos que, sem se aperceberem, projetam nos filhos as dores que nunca souberam curar.
Ser mentor, seja de uma criança, de um jovem, de um colega ou de um aluno, é antes de tudo ser alguém que já caminhou dentro de si. Que reconhece a própria dor, que se reconcilia com ela, e que, a partir desse lugar de verdade e amor, pode guiar o outro. Um mentor não aponta o caminho de fora; acende uma luz por dentro.
A educação, na sua essência, é um ato de amor. Um processo que começa na família, que se expande na escola e que se prolonga por toda a vida.
Educar é ensinar a escutar, a respeitar, a compreender. E sem educação, no seu sentido mais profundo, torna-se difícil manter um relacionamento, um emprego, uma carteira com dinheiro ou um corpo saudável.
Tudo parte do mesmo ponto: o equilíbrio interior.
Por isso, é urgente parar.
Parar antes de reagir.
Parar para respirar fundo e observar.
E perguntar: O que é que esta situação me quer mostrar?
Em vez de culpar, compreender.
Em vez de gritar, escutar. Em vez de julgar, sentir.
Cada criança que se cala está a tentar dizer algo.
Cada jovem em sofrimento é um espelho da nossa desconexão.
Não podemos continuar a olhar para o suicídio juvenil como um problema dos jovens. Ele é, antes de tudo, um pedido coletivo de cura.
A verdadeira mudança começa quando cada um de nós assume a sua responsabilidade. Quando deixamos de procurar culpados e começamos a ser presença. Quando reconhecemos que o amor que procuramos fora nasce, antes de mais, dentro de nós.
Foi com este propósito que nasceu a Associação Amar Eva, um espaço de reflexão, amor e encontro com o essencial. E foi também por isso que escrevi o meu segundo livro, que nada mais é que um guia “O Amor que procuras está dentro de ti” porque acredito que só quando cada pessoa reencontra o seu próprio centro é que pode, verdadeiramente, educar, orientar e amar o outro.
Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa de mentores conscientes.
De pais que saibam escutar.
De professores que inspirem.
De adultos que curem em si a violência que o mundo reflete.
Porque quando um adulto cura, uma criança sente-se segura.
E é aí que começa o verdadeiro milagre da educação.
Fernanda Ferreira, Professora, Mãe, Fundadora da Associação Amar Eva
Autora do livro “Eva entrega a Costela a Adão” e “O Amor que procuras está dentro de ti”
Vice-presidente Operativa Regional da Europa, na Rede Global de Mentores
Contacto: amareva.associacao@gmail.com