À primeira vista, pode parecer que a ação climática empresarial está a abrandar. Apenas 7% das empresas reportam totalmente as emissões de gases com efeito de estufa nos níveis 1: emissões diretas geradas pela própria empresa; 2: emissões indiretas associadas à eletricidade, vapor, aquecimento ou arrefecimento adquiridos ou consumidos; e 3: outras emissões indiretas na cadeia de valor, tanto a montante (fornecedores) como a jusante (utilização do produto), uma queda face aos 9% em 2024 e 10% em 2023. De forma semelhante, o número de empresas com metas para reduzir emissões em todos os contextos definidas diminuiu três pontos percentuais face ao ano anterior, após ter atingido um máximo de 19% em 2023. A avaliação do risco climático também é limitada, com apenas 12% das empresas a considerar todos os tipos de riscos físicos e de transição.
Estas são algumas das conclusões do quinto relatório anual do inquérito climático “How Companies Are Tackling the Climate Challenge – and Creating Value”, da Boston Consulting Group (BCG) e da CO2 AI, publicado em setembro 2025. O relatório baseia-se nas respostas de 1.924 executivos responsáveis pela medição, reporte e iniciativas de redução de emissões das suas empresas. Estas empresas abrangem 16 grandes setores e 26 países, em todos os continentes, sendo coletivamente responsáveis por 40% das emissões globais de GHG (greenhouse gases).
As empresas continuam, contudo, a ganhar dinamismo. Nos próximos cinco anos, planeiam aumentar os investimentos em mitigação, adaptação e resiliência, destinando mais 16% do orçamento de capital à sustentabilidade — o que equivale a um acréscimo de 69 milhões de dólares por empresa. Esta aposta ajuda a mitigar riscos climáticos, por exemplo, tornando ativos resistentes às condições meteorológicas, mas também abre caminho ao crescimento verde, como linhas de produtos sustentáveis.
Os retornos climáticos estão a materializar-se e a impulsionar a ação
De acordo com o relatório, 82% das empresas inquiridas afirmam ter obtido benefícios económicos da descarbonização, sendo que 6% reportam um valor que excede 10% da receita anual. Estes benefícios correspondem a um valor líquido (após custos) de 221 milhões de dólares por empresa e resultam, sobretudo, do crescimento da receita proveniente de produtos sustentáveis e de poupanças operacionais decorrentes de ganhos de eficiência e otimização de recursos.
O risco climático está a ser levado mais a sério e as empresas estão também a antecipar o potencial financeiro da adaptação e da resiliência climática. Entre as empresas que avaliam tanto riscos físicos, como tempestades e subida do nível do mar, como riscos de transição, incluindo políticas e mudanças de mercado, a exposição financeira média projetada até 2030 é de 790 milhões de dólares. Quase metade das empresas reporta que os seus esforços de adaptação ao risco climático geram um retorno sobre o investimento superior a 10%, demonstrando que a preparação proativa entrega valor real e mensurável.
Ferramentas avançadas para transformar objetivos climáticos em ação
À medida que as empresas aumentam os seus investimentos e objetivos climáticos, também estão a reforçar as formas de financiar e operacionalizar a ação climática, bem como a expandir o uso de mecanismos de governação avançados. O inquérito revelou que um terço das empresas já aplica preços internos do carbono e que a adoção de planos de transição climática subiu cinco porcento face ao ano anterior, estando agora 61% destes planos aprovados ao nível do conselho de administração. Estas ferramentas representam uma mudança importante: a passagem de ambições pouco fundamentadas para estratégias climáticas operacionalizadas.
O que distingue os líderes
Ao colocar a sustentabilidade no centro da estratégia, um pequeno grupo de empresas está a concretizar benefícios financeiros equivalentes a cerca de 10% da sua receita. O relatório identifica quatro fatores comuns entre as empresas que estão a gerar mais valor financeiro a partir da ação climática:
- Medição detalhada de emissões e riscos (1,4x mais probabilidade de alcançar receitas significativas);
- Quantificação do impacto através de preços internos do carbono e modelação de riscos (1,6x);
- Adoção de planos de transição e adaptação (2,2x);
- Utilização de múltiplas soluções digitais avançadas (2,3x).
O relatório está disponível na íntegra aqui.