Quando li a notícia, senti um frio que atravessou todos os meus ossos.
Teresa Caeiro, vítima de uma violência que insistimos em fingir não existir!
A pergunta que ecoa dentro de mim não é apenas “porquê?”, mas “como continuamos a ser tão cegos, tão indiferentes?”.
Aquela mulher decidida, com voz ativa na política, sempre pronta a erguer as bandeiras em que acreditava…
Se até quem tem espaços de poder não está a salvo, o que dizer de todas as outras mulheres que vivem aprisionadas num silêncio invisível?
Cada vez que ignoramos um sinal, cada vez que rejeitamos um pedido de ajuda com um “aqui isso não acontece”, estamos a fechar a porta à esperança.
É impossível esquecer o momento em que fundei a Associação Amar Eva, depois de tanta formação e tantas vítimas ouvir tinha a convicção de que já não bastava acolher vítimas, dar-lhes bens ou encaminhá-las para os serviços sociais.
Precisávamos transformar consciências antes que os dentes e os ossos se partissem, antes que as vozes fossem silenciadas.
E, mesmo assim, sinto o sopro frio da rejeição, diariamente:
“Acabar com as vítimas? Isso não dá votos.”
Quando falo em violência doméstica, oiço “isso não é problema no nosso município”. Quando falo de bullying, a resposta é “sempre houve e estamos aqui”.
Essas palavras cravam-se em mim como pregos em carne viva.
Não queremos acreditar que a dor bate à porta de dentro.
Não queremos ouvir o choro noturno, o grito abafado, a súplica por um ombro amigo.
Teresa Caeiro: Quantas vezes precisou de um abraço?
Teresa Caeiro: Quantas vezes sonhou com alguém que a pudesse escutar?
E eu pergunto-me, se eu tivesse cruzado o seu caminho, se a minha mão tivesse tocado a sua mão, teria mudado o final desta história?
Não podemos esperar que a próxima vítima seja alguém que conhecemos. Amanhã poderá ser a tua irmã, a tua amiga, a tua filha.
Não podemos continuar a normalizar o inaceitável
A Violência é um abismo que construímos coletivamente quando escolhemos o silêncio em vez da intervenção.
Cada lei aprovada, cada campanha lançada, cada conversa franca que deixamos de ter é um tijolo a cimentar essa parede de indiferença.
É por isso que, em outubro, na Lisboa que tantas vezes ignora quem sofre, vamos convocar quem acredita que a partir do diálogo e da mentoria podemos desenhar novos caminhos. Mentores, professores, assistentes sociais, políticos e cidadãos comuns, todos temos o poder de sermos guia, colo e farol.
Não te peço um voto nem uma declaração bonita.
Peço o teu gesto: partilhar esta causa, aparecer num evento, dar valor à voz que estremece atrás da porta.
Se cada um de nós estender a mão antes de ser tarde, poderemos reescrever histórias que hoje só conhecemos no desfecho mais cruel.
O texto termina aqui, mas a ação começa agora.
Juntos, podemos romper o silêncio, erguer as nossas vozes e transformar a nossa cumplicidade em empatia.
Se não formos nós, quem será?
E se não for agora, quando será?
A resposta exige uma só palavra: basta.
Fernanda Ferreira, Professora, Mãe, Fundadora da Associação Amar Eva
Autora do livro “Eva entrega a Costela a Adão” e “O Amor que procuras está dentro de ti”
Vice-presidente Operativa Regional da Europa, na Rede Global de Mentores
https://www.redeglobaldementores.org/
Contacto: amareva.associacao@gmail.com