Uma geração que termina o ensino… e começa a lutar para sobreviver.
Aos 18 anos, muitos jovens saem da escola sem saber ao certo para onde ir. Cumpriram a escolaridade obrigatória, foram “incluídos” no sistema, transitaram de ano — mas não aprenderam a viver.
Têm um diploma, mas não têm ferramentas.
Têm idade para trabalhar, mas não sabem onde procurar ajuda, como redigir um currículo, ou até como lidar com um “não”.
Nas escolas, professores tentam — com as forças que lhes restam — conciliar a exigência curricular com a realidade de salas onde convivem alunos em profunda desigualdade. Na pressa de garantir inclusão e evitar o abandono, acaba-se, por vezes, a facilitar a progressão sem garantir a aprendizagem. Como se passar de ano fosse, por si só, sinónimo de sucesso.
Não é.
Lá em casa, muitos destes jovens crescem em contextos de grande vulnerabilidade. Pais com baixos níveis de literacia, dias longos de trabalho, vidas marcadas pela sobrevivência e não pela reflexão.
Fazem o melhor que sabem, mas não têm tempo — nem recursos — para acompanhar o percurso escolar ou o desenvolvimento emocional dos filhos.
O resultado?
Um número crescente de jovens que, ao completar 18 anos, se veem sozinhos, sem competências para gerir a sua vida adulta.
Jovens que nunca aprenderam a lidar com a frustração, com o esforço, com a espera. Jovens que caem numa sociedade que lhes exige autonomia… mas que não lhes ensinou como conquistá-la.
É urgente que olhemos para além das notas.
O verdadeiro sucesso escolar não pode ser medido apenas por percentagens de positivas. Deve ser avaliado pela capacidade de cada aluno em construir um projeto de vida digno, autónomo e sustentável. Isso exige muito mais do que cumprir o currículo: exige educar para a vida.
É igualmente urgente reforçar o papel das famílias — não as culpando, mas capacitando-as. Não se trata de transferir responsabilidades, mas de criar redes reais de apoio à parentalidade, de forma contínua, próxima, e culturalmente sensível.
E, sobretudo, é preciso continuar a escutar estes jovens.
Quando um jovem pede ajuda e encontra apenas portas fechadas, o que lhe resta?
Quando aos 18 anos, termina a escola e começa a fome, o desespero, a solidão — que futuro se lhe oferece?
Não estamos a falhar apenas aos Filipe, aos Pedro ou às Marias.
Estamos a falhar a todos.
A sociedade que não cuida dos seus jovens é a mesma que, daqui a uns anos, lamentará o aumento da exclusão, da precariedade e da violência.
Mas ainda vamos a tempo. De redesenhar o percurso. De unir escolas, famílias e instituições com um verdadeiro compromisso: formar jovens capazes de existir com dignidade, coragem e sentido.
Porque nenhum jovem deveria completar 18 anos sem a certeza de que pertence a algum lugar.
Fernanda Ferreira, Professora, Mãe, Fundadora da Associação Amar Eva
Autora do livro “Eva entrega a Costela a Adão”
Vice-presidente Operativa Regional da Europa, na Rede Global de Mentores
Contacto: amareva.associacao@gmail.com