Os Bancos Alimentares Contra a Fome recolheram mais de 2.292 toneladas de géneros alimentares na campanha realizada em 2.000 superfícies comerciais de 21 regiões do país, um acréscimo de 10% em relação ao ano anterior.
40 mil voluntários dos Bancos Alimentares convidaram, durante o fim-de-semana, os portugueses a partilhar os bens alimentares que compram para as suas casas. Os portugueses aceitaram uma vez mais o convite dos Bancos Alimentares e aderiram a uma rede social real, partilhando alimentos com pessoas carenciadas da sua região. A confiança reiterada nos Bancos Alimentares ficou patente na generosidade da doação de tempo e de alimentos.
“Não podemos deixar de sublinhar o papel dos voluntários, pessoas de todas as idades, com convicções politicas e religiosas diversas que, participando, lado a lado, contribuem de forma fraterna e solidária para uma sociedade mais justa e coesa”, referiu a Presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome, Isabel Jonet. “Temos ainda de agradecer aos milhares de doadores e às empresas e entidades que apoiaram esta campanha, dando assim o seu grande contributo para que os Bancos Alimentares possam continuar a acudir a muitas pessoas necessitadas, em especial numa conjuntura particularmente desafiante para muitas famílias, a braços com o impacto da pressão inflacionista e do aumento das taxas de juro nos créditos hipotecários”, disse ainda.
Os géneros alimentares recolhidos serão distribuídos, já a partir da próxima semana, a 2.600 Instituições de Solidariedade Social, que os entregam a cerca de 400 mil pessoas com carências alimentares comprovadas, sob a forma de cabazes ou de refeições confecionadas.
Foi também possível contribuir com alimentos através de vales disponíveis nas caixas dos supermercados, cada um dos quais inclui um código de barras para um de cinco produtos básicos (leite, azeite, arroz, atum e salsichas). O Banco Alimentar disponibiliza ainda o site de doação online www.alimentestaideia.pt, dando assim a oportunidade de partilhar a todos os que não tiveram oportunidade de se deslocar aos pontos de recolha durante o fim de semana, aos que se encontram ou residem fora de Portugal.
Mais de dois milhões de portugueses em risco de pobreza
Segundo dados divulgados recentemente pelo INE, 17,0% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2022, tendo o aumento da pobreza abrangido todos os grupos etários, embora de forma mais significativa os menores de 18 anos (mais 2,2 p.p. relativamente ao ano anterior). A taxa de risco de pobreza dos adultos em idade ativa aumentou 0,4 %. O crescimento da taxa de risco de pobreza afetou mais significativamente as mulheres do que os homens. Em 2023 (rendimentos de 2022), em Portugal, mais de 2 milhões de pessoas encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social (pessoas em risco de pobreza ou a viver em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida ou em situação de privação material e social severa). Consequentemente, a taxa de pobreza ou exclusão social foi 20,1%, mantendo-se o valor do ano anterior. Se fossem considerados apenas os rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, 43,4% da população em Portugal estaria em risco.
A rede de instituições de solidariedade desempenha, portanto, um papel ímpar e insubstituível na ajuda aos mais necessitados e o apoio alimentar é determinante nesta ajuda.
Estas campanhas dos Bancos Alimentares alertam ainda a sociedade, como um todo, para uma realidade que não pode deixar ninguém indiferente, sendo “muito importante não nos esquecermos que, no dia a dia, ainda há pessoas que precisam de ajuda para comer, principalmente numa altura como o Natal, onde ter a família reunida à volta de uma mesa é um desejo que podemos, cada um de nós, ajudar a concretizar”, refere o Banco Alimentar.
Alguns dados sobre a atividade
A atividade dos Bancos Alimentares Contra a Fome prolonga-se ao longo de todo o ano. Para além das campanhas de recolha em supermercados, organizadas duas vezes por ano, os Bancos Alimentares Contra a Fome recebem, diariamente, excedentes alimentares doados pela indústria agro-alimentar, pelos agricultores, pelas cadeias de distribuição e pelos operadores dos mercados abastecedores e donativos de particulares e empresas. A luta contra o desperdício é a missão dos Bancos Alimentares e são recuperados produtos alimentares que, de outro modo, teriam como destino provável a destruição. Estes excedentes e sobras são recolhidos localmente e a nível nacional no estrito respeito pelas normas de higiene e de segurança alimentar. Deste modo, para além de combaterem de forma eficaz as carências alimentares, os Bancos Alimentares Contra a Fome lutam contra uma lógica de desperdício e de consumismo, apanágio das sociedades atuais.
Recolha nacional, ajuda local
Os 21 Bancos Alimentares Contra a Fome distribuem, ao longo de todo o ano, alimentos através de Instituições de Solidariedade Social por si selecionadas e acompanhadas em permanência por voluntários. Estas asseguram um acompanhamento muito próximo e individualizado de cada pessoa ou família necessitada, de forma a ser possível efetuar, em simultâneo, um real trabalho de inclusão social, que conduza a autonomias.
De acordo com os dados da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, no ano passado, os 21 Bancos Alimentares em atividade em Portugal distribuíram 28.905 toneladas de alimentos (com o valor estimado de 44,2 milhões de euros), num movimento médio de 115 toneladas por dia útil. Prestando assistência a 2.600 instituições, os alimentos foram entregues a perto de 400 mil pessoas com carências alimentares comprovadas, sob a forma de cabazes ou de refeições confecionadas.
A atividade dos Bancos Alimentares norteia-se pelo princípio genérico da “recolha local, ajuda local”, aproximando os dadores dos beneficiários, permitindo uma proximidade entre quem dá e quem recebe. Possibilita o encontro entre voluntários e instituições beneficiárias, por um lado, e entre fornecedores da indústria agro-alimentar, empresas de serviços, poderes públicos e o público em geral, em especial durante os fins-de-semana das campanhas de recolha, em que todos trabalham lado a lado por uma causa comum: a luta contra as carências alimentares e a fome.
Alguns dados
O Banco Alimentar Contra a Fome foi criado em Portugal em 1991 com a missão de lutar contra o desperdício e distribuir apoio alimentar a quem mais precisa, em parceria com instituições de solidariedade e com base no trabalho voluntário. Existem atualmente 21 Bancos Alimentares (nas zonas de Abrantes, Algarve, Aveiro, Beja, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Cova da Beira, Évora, Leiria-Fátima, Lisboa, Madeira, Zona Oeste, Portalegre, Porto, S. Miguel, Santarém, Setúbal, Terceira, Viana do Castelo, Viseu). A Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares encoraja a rede e representa os Bancos Alimentares a nível nacional e internacional.
A nível europeu, existem 351 Bancos Alimentares operacionais em 30 países, que, em 2022, distribuíram mais de 876.316 toneladas de alimentos – equivalentes a 4,3 milhões de refeições diárias, em parceria com 44.884 organizações sociais, beneficiando mais de 12,4 milhões de pessoas (fonte: www.eurofoodbank.org).