Seja pela sua aparência ou pelos mitos e superstições que se criam em torno das aves necrófagas, os abutres são uma espécie incompreendida, desvalorizada e até mesmo perseguida. A sua importância para a manutenção do equilíbrio do ecossistema e a iminente ameaça de extinção da espécie em Portugal motivaram a Peripécia Teatro a criar um espetáculo que abordasse estas questões. O Ensaio dos Abutres, que se estreou em 2020, foi coproduzido com a Palombar – organização para a conservação da natureza e do património rural, estando agora de regresso ao palco – nos dias 27, 28 e 29 de outubro –, com o intuito de continuar a incentivar a reflexão sobre a preservação desta espécie.
Potenciar a interseção entre o teatro e a conservação da natureza
Confrontar ideias pré-concebidas do público em relação a estas aves, desmitificando o seu propósito na natureza, através de informação científica e de uma linguagem multidisciplinar. São estes os principais objetivos da Peripécia Teatro com a criação de O Ensaio dos Abutres, potenciando a interseção do teatro com matérias de conservação e proteção da natureza.
Os abutres “são determinantes nos ecossistemas, são seres imponentes fisicamente, são aves tímidas e sensíveis, e com algumas capacidades assombrosas, como por exemplo a sua visão”, avança Sérgio Agostinho – codiretor artístico da Peripécia Teatro e um dos intérpretes do espetáculo. Contudo, esta é uma realidade que está longe de ser compreendida por todos. As aves necrófagas, que enfrentam perigo real de extinção em Portugal, são alvo de inúmeras ameaças, muitas delas criadas pelo homem. Exemplo disso é a percentagem de abutres mortos por envenenamento ou por armadilhas.
De acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, o uso de substâncias tóxicas (como a utilização ilegal de venenos) apresenta uma ameaça global para as populações de, no mínimo, 2.302 espécies de fauna, das quais 42 por cento estão ameaçadas. Já em Portugal, o Programa Antídoto revelou que, entre 1992 e 2003, foram registadas 506 mortes de animais, entre eles 77 espécies de aves necrófagas.
Um espetáculo e um documentário para educar os espectadores
Tendo sido apresentado no Norte e Centro do país, numa digressão que conta com mais de 1.200 espectadores, o espetáculo deu também origem a um documentário. Como afirma Sérgio Agostinho “o documentário foi uma forma de contornar as dificuldades de levar os alunos das escolas a um teatro para assistir ao espetáculo, devido às regras e receios da COVID-19”, adiantando que o mesmo “tornou possível chegar mais facilmente a estes públicos e abordar a temática das aves necrófagas associada a um projeto de criação artística. O filme contém conteúdo científico e artístico com depoimentos dos cientistas da Palombar e dos atores e músicos da Peripécia, além de excertos do espetáculo”.
Este contacto com o público escolar mantém-se, assim como a parceria entre a Peripécia Teatro e a Palombar. A par das récitas programadas para os dias 27, 28 e 29 deste mês, estão em curso ações de sensibilização em escolas de Vila Real, promovendo assim “a contínua promoção e divulgação do espetáculo junto dos territórios mais próximos ao habitat natural destas aves”, concluiu o diretor artístico da Peripécia Teatro.
Récitas cada vez mais inclusivas, com LGP e serviço de babysitting
Compondo a agenda programática do “Lua Cheia, Arte na Aldeia” – ciclo promovido pela Peripécia Teatro, nas noites de lua cheia de cada mês –, as récitas de O Ensaio dos Abutres apresentam uma componente cada vez mais inclusiva, contando com tradução simultânea em Língua Gestual Portuguesa (LGP), assim como um serviço de babysitting (no dia 28 de outubro).
Disponível na Associação Cultural e Recreativa Camilo Castelo Branco, em parceria com a Associação Brincar, as sessões de babysitting partem de propostas a desenvolver juntamente com os participantes, com o intuito de criar uma dinâmica de grupo. No dia 28, por exemplo, o objetivo será potenciar o diálogo em torno dos abutres, dando a conhecer aos mais novos o que são, como são, como vivem, a sua importância no ecossistema e a importância da sua preservação. A atividade integrará o manuseio de imagens e livros, desenvolvimento de penas em papel, assim como o desenho de abutres. O serviço de babysitting será gratuito em todas as noites de “Lua Cheia, Arte na Aldeia”, até ao final do ano, mediante a compra do bilhete para os espetáculos.
Sublinhe-se ainda que, com o intuito de apresentar uma linguagem transversal a várias gerações, o espetáculo apresenta uma dramaturgia contemporânea, recorrendo a momentos de poesia, música ao vivo e ao humor. O Ensaio dos Abutres estará em cena nos dias 27 e 28 de outubro, às 21h00, e no dia 29, às 17h00, no Centro Cultural e Recreativo de Benagouro. Os bilhetes têm o valor de cinco euros.