O prestígio das marcas desaparece dos atrativos mais importantes para o acesso ao talento nas empresas portuguesas. Em vez disso, surgem fatores relacionados com o bem-estar pessoal no desenvolvimento da atividade profissional, revela o estudo Talent Trends 2023 da Michael Page. Esta realidade permite que organizações menos estabelecidas (como start-ups) possam concorrer mais eficazmente contra marcas bem conhecidas do setor, na corrida ao melhor talento.
A análise que inclui Portugal e outros países europeus, revela que o reconhecimento e o prestígio das marcas deixam de ser fatores cruciais para a retenção do talento, destacando outras prioridades para os trabalhadores. Esta é uma das principais conclusões do estudo Talent Trends 2023 da Michael Page, que aponta para uma total revolução cultural no trabalho, a par com tendências de mudança nas dinâmicas do poder, com os trabalhadores a ganharem maior controlo e a lealdade a deixar de ser um apelo.
Com a quase totalidade dos trabalhadores portugueses (97%) aberto a novas oportunidades de trabalho, e a cultura do serviço de longo prazo a uma única empresa a tornar-se um conceito obsoleto, as marcas deixam de ser um fator crucial, sendo substituídas por outros critérios como a satisfação no trabalho (51%) e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional (58%). Além destes fatores surgem outras questões como o relacionamento com os colegas (38%), e a progressão na carreira (36%).
Segundo as conclusões do estudo, em Portugal, os empregadores sobrevalorizam demasiado a marca da sua empresa, nuns impressionantes 457%. Comparativamente com outros países europeus, Portugal está em 4º lugar relativamente à perceção do empregador sobre a importância da marca da empresa na atração de talento e em 9º lugar no ranking da importância da marca da empresa na perceção dos trabalhadores.
Álvaro Fernández, Diretor Geral da Michael Page Portugal, refere: “Atualmente, as pessoas estão muito menos motivadas para escolher uma empresa pela sua marca externa (para o cliente). Pelo contrário, em linha com o seu foco no crescimento na carreira, estão muito mais interessadas na função propriamente dita e nas oportunidades únicas de crescimento que pode oferecer”.
O estudo revela ainda que a informação está a impulsionar a mobilidade dos trabalhadores. É muito mais fácil para os profissionais da atualidade manterem-se informados sobre oportunidades de trabalho em tempo real através de notificações de apps, alertas de e-mail, ou apps de mensagens.
A proliferação dos modelos de trabalho remoto a tempo inteiro e flexível/híbrido (59%) significa que as pessoas têm maior facilidade em procurar emprego – e em ser contactadas por recrutadores – enquanto desempenham as suas tarefas na privacidade das suas casas.
Com o trabalho flexível e híbrido a tornar-se a norma para a maioria das pessoas (50%), mesmo os profissionais que estejam à procura de trabalho de forma descomprometida podem aproveitar a oportunidade certa quando ela surge – uma realidade nova e significativa que vai continuar a perpetuar a mobilidade do mercado de trabalho.
O estudo conclui ainda que há uma nova reavaliação do papel do trabalho na vida das pessoas. Mais profissionais têm vindo a adotar uma abordagem transacional ao trabalho, encarando o emprego como um meio para um fim em vez de uma fonte de realização pessoal. Estão a trocar os benefícios emocionais de paixão, pertença e propósito que muitos obtinham do emprego por substitutos mais adaptados à sua vida, como a família, os amigos e a comunidade. Apenas 8% dão um grande nível de importância a um “maior sentimento de propósito” ao considerar um novo emprego, dando prioridade a um melhor salário.
“Esta redefinição da equação de valor vida-trabalho tem consequências significativas. Com o grande decréscimo do valor emocional que antes as pessoas obtinham do emprego, este está a resumir-se cada vez mais a uma troca transacional do tempo e conhecimento do trabalhador por uma remuneração justa. Atrair e reter os melhores talentos será extremamente desafiante para as empresas, enquanto tentam aumentar o valor dos pacotes de condições com substitutos não monetários”, conclui Álvaro Fernández, Diretor Geral da Michael Page Portugal.
Talent Trends 2023
O estudo foi realizado em 167 países, incluindo Portugal (1717 participantes), entre novembro de 2022 e meados de janeiro de 2023, e contou com as respostas de mais de 69.532 clientes e candidatos, dos quais 28.009 são europeus. Em Portugal, 39% dos participantes têm 40 anos e 25% 30 anos, são empregados a tempo inteiro (68%) e desempenham funções de gestão de nível intermédio (36%), 26% funções de nível inferior e 30% sem responsabilidades de gestão. Apenas 8% dos inquiridos corresponde a gestão de topo (por exemplo CEO e CFO).